Temática indígena no ensino de história: os Avá-Guarani e a construção da Hidrelétrica de Itaipu (1973-1982)

por | maio 13, 2022 | Pesquisas de colaboradores

Crislene Bueno de Carvalho Galdino¹

Durante a ditadura civil-militar (1964 – 1985) diversas obras de infraestrutura foram feitas no Brasil por meio de alianças estratégicas com os Estados Unidos e com financiamentos estrangeiros para o desenvolvimento da economia. Essas obras também serviram para propagandear os governos militares, reforçando assim a legitimidade da ditadura no país, cujo preço a ser pago por tudo isso foi muito alto, obras inacabadas, como, por exemplo, a Transamazônica, corrupção, arrocho salarial, hiperinflação, entre outros problemas, ao ponto da década de 1980 ficar conhecida como a “década perdida”.

No setor energético, a Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu foi uma das obras de infraestrutura que mais se destacou, contudo,assim como outras obras ela também apresentou evidências de corrupção.

Durante a construção da UHE Itaipu, houve perseguição política e vigilância sobre todos que circulavam no local, estas ações eram feitas por meio da Assessoria Especial de Segurança e Informação (AESI), que estava tanto do lado brasileiro quanto do lado paraguaio, e auxiliadas pela Agência Central de Inteligência (CIA) dos Estado Unidos, essas assessorias contribuíram com a Operação Condor para capturar pessoas que discordavam politicamente das ditaduras implantadas no Cone Sul (Brasil, Paraguai, Uruguai e Chile).

Todos os projetos estavam pautados na Doutrina de Segurança Nacional e Desenvolvimento (DSND), fundamentadas na repressão, onde o direito de liberdade política e cultural era limitado, o que dificultava o direito de existir de determinadas pessoas, como os indígenas, por exemplo.

A construção da UHE de Itaipu foi articulada pelos ditadores do Brasil e Paraguai, que usavam o discurso desenvolvimentista para justificar as expropriações de terras e principalmente o esbulho dos territórios dos Avá-Guarani que foram feitos de forma autoritária e violenta, levan do a expulsão e dispersão das famílias indígenas que ali viviam.

Com a subida do nível da água para a formação do lago de Itaipu, as memórias e tradições espirituais acabaram violadas, os Avá-Guarani não perderam somente os seus territórios, mas os seus locais sagrados que foram submersos, como as casas de reza, cemitérios (os corpos ali enterrados não foram respeitados, tão pouco retirados do local), a ilha de Itaipu e o maior conjunto de cachoeiras do mundo em volume de água, o Salto de Sete Quedas.

Os Avá-Guarani continuam lutando pelo direito de existirem e de serem respeitados, reivindicando territórios, demarcação de suas terras e lutando contra as violações dos direitos humanos que ainda ocorrem naquele local, esses povos ainda sofrem com o preconceito, discriminação, perseguição, violência e assassinato devido à ação de algumas pessoas não indígenas que moram na região Oeste do Paraná.

Pensando no contexto educacional a pesquisa desenvolvida, além de investigar os fatos ocorridos, fornece material de apoio para os professores terem subsídios sobre o tema para trabalhar em suas aulas, e apresenta no último capítulo uma aula-oficina investigativa, cujo objetivo é levar o conhecimento e a consciência histórica sobre o tema, bem como, desenvolver o respeito sobre a diversidade cultural.

¹ Crislene Bueno de Carvalho Galdino é Graduada em História pela Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP (2005) e em Geograf ia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG (2012). Especialista em História do Brasil (2007) pela Faculdade Padre João Bagozzi. Mestra em Ensino de História pela Universidade Federal do Paraná – UFPR (2021). Possui experiência como prof essora de Geograf ia (2006 – 2007) pelo Estado do Paraná e como prof essora de Educação Artística, tendo atuado na Escola Especial São Lucas (APAE) de Quatiguá – PR (1999 -2000). Prof essora da disciplina de História, com vínculo – QPM, pelo Estado do Paraná desde 2012. Atualmente é prof essora no Ensino Fundamental, com vínculo desde 2007, pela Pref eitura Municipal de Curitiba e Coordenadora do Setor de Pesquisa e Documentação no Museu de Arte Contemporânea do Paraná – MAC Paraná. E-mail: [email protected].

REFERÊNCIAS
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