Edifício Santa Maria/Praça Zacarias

Tanto o edifício Santa Maria, em que o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil estava localizado quanto a Praça Zacarias podem ser considerados como locais de resistência. O primeiro, por estar ligado a trabalhadores que procuravam seus direitos em uma época de arrocho salarial e inflação galopante, no final dos anos 1970, já o segundo abrigou os primeiros movimentos da greve em seu entorno, mais precisamente em frente ao edifício Santa Maria, sendo os grevistas transferidos mais tarde para a praça do Atlético Paranaense, no bairro Rebouças.

O jornal Diário da Tarde (cuja capa foi analisada anteriormente) publicou a seguinte manchete acerca da manifestação da Praça Zacarias:

Quatro prisões durante a greve dos pedreiros

Com quatro prisões, a realização de uma concentração de mais de dois mil pedreiros e serventes, e confrontos com a polícia, a greve dos 3.600 operários da construção civil de Curitiba foi marcada ontem ainda (2º dia), pelo fechamento antecipado de casas bancárias, como é o caso do Banco do Brasil que cerrou as portas às 15 horas pelas confusões do trânsito, e por confrontos com a polícia, que por sua vez terminaram em cacetadas.

A paralisação ontem, de 27 obras de grandes empresas, tais como a Cidadela, a Habitação, Nova Era, Vaticano, Sacamori, Independência, Pazzini e outras, motivou os operários [a] reunirem-se numa grande concentração, na Praça Zacarias, defronte ao edifício Santa Maria onde funciona o sindicato. Nesse local eles ficaram à espera da resposta à reivindicação salarial de 80 por cento feita aos patrões. E, os patrões mantinham-se reunidos na Delegacia Regional do Trabalho, a fim de encontrarem uma solução ao impasse da exigência considerada “altíssima” pela classe patronal.

Depois de dispersados na Praça Osório foram enviados à praça do Atlético, onde deveriam finalmente, receber, às 18 horas, a resposta esperada. Porém, antes de partirem, ocorreu um tumulto, quando uma lata lançada ao ar, caiu sobre a cabeça do comandante das operações policiais, Eloi França. Logo a seguir, um operário foi preso.

Na praça do Atlético eles foram novamente dispersados pela polícia, pois na DRT nenhuma resposta fora definida, transferindo-se a reunião para às 8 horas de hoje, e a resposta para às 11 horas, naquela praça.

Decepcionados, serventes e pedreiros dirigiram-se ao centro da cidade onde um forte policiamento resguardava os ambientes.  Mesmo assim, eles entraram em confronto com a PM, na Rua Ermelino de Leão, onde três outros operários foram presos, recebendo cacetadas.

A dificuldade de chegar a um acordo na intermediação da DRT, prende-se ao aumento que os operários tiveram em 1º de novembro (os serventes passaram a ganhar Cr$ 2.989,00), e ao aumento dos pedreiros, previsto para o dia 1º de dezembro, quando eles passarão a ganhar Cr$ 4.140,00.[1]

(DIÁRIO DA TARDE, 4 nov. 1979, p. 2)

Conforme relata o jornal, os trabalhadores não tiveram sua reivindicação atendida naquele dia, sendo que mais tarde houve confronto com a PM. Na mesma edição, o periódico afirma que a Praça Zacarias estava com um forte contingente policial, com mais de duzentos homens para garantir a segurança do local.

Trabalhadores da construção civil e policiais na Praça Zacarias durante a greve de 1979. Fonte: Diário da Tarde, 4 nov. 1979, p. 6. Disponível em: <http://memoria.bn.br/docreader/800074/144938>acesso em 23 mar 2018.

 

É imperativo frisar que separar uma manifestação especificamente contra a ditadura de movimentos que criticavam a conjuntura econômica e/ou social da época nem sempre é possível, uma vez que determinados problemas estão correlacionados ao refluxo do regime, como a crise econômica da segunda metade da década de 1970, que ajudou na eclosão de movimentos trabalhistas exigindo reposição salarial e, consequentemente, o fim da ditadura.

Durante o período do chamado “milagre econômico”, um misto de repressão oriunda do AI-5 (e orientação política de Garrastazu Médici) com bons resultados da economia colaborou na diminuição de greves e movimentos massivos. Já nos governos seguintes, o processo de abertura política, desgaste do regime, situação econômica desfavorável e insatisfação popular contribuíram para que o povo voltasse às ruas com novas demandas, dentre elas a abertura democrática.

Praça Zacarias na atualidade, 2018. Fonte: Acervo do autor

Nesta figura mostramos a Praça Zacarias na atualidade, sendo que o edifício Santa Maria é o prédio localizado à esquerda da imagem. O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Curitiba não se encontra mais nesta localidade, sendo que o atual endereço fica na Rua Trajano Reis, 538, no centro da capital.


[1]Para fins de comparação, o salário mínimo em 1979 teve dois aumentos, sendo que em maio seu valor passou de para 1.570,00 para Cr$ 2.268,00. Já no mês de novembro o novo valor foi de Cr$2.932,80. Fonte:<http://www.oabsp.org.br/subs/saoluizdoparaitinga/noticias/valores-do-salario-minimo-nacional-desde-sua> acesso em 23 de março de 2018.