Delegacia de Ordem Política e Social

Nos primeiros instantes deste documentário é possível visualizar como era a DOPS, incluindo um fundo falso na delegacia, onde os presos eram submetidos às mais diversas sevícias

A Delegacia de Ordem Política e Social remete aos tempos do Estado Novo, de Getúlio Vargas. Embora tenha sido criada na década de 1920, foi utilizada, sobretudo, a partir da repressão de inimigos do regime ditatorial varguista.[1] Este órgão foi amplamente utilizado na perseguição de opositores ao regime militar (1964-1985). Em Curitiba, sua sede ficava na rua João Negrão, nº 773, na região central da cidade. Atualmente, não há qualquer identificação que remeta à sua controversa história. Suas dependências foram transformadas em um restaurante e em um martelinho de ouro.

Ao longo do o regime de exceção, foram investigados pela DOPS mais de 44 mil paranaenses. Muitos presos eram trazidos primeiramente para a sede da DOPS em Curitiba e submetidos a várias seções de tortura[2]. Depois de passarem pelos interrogatórios, eram transferidos para quartéis espalhados pelo Estado.

A Comissão Estadual da Verdade colheu vários depoimentos de indivíduos que sofreram suplícios nas dependências da DOPS, assim como de outros que alegaram não sofrer violência física, apenas psicológica. O mais temido comandante deste órgão em Curitiba foi Ozias Algauer, exercendo o cargo de delegado no período de 1969 a 1978[3]. Seu nome é o mais citado em casos de violações de direitos humanos pelos ex-presos políticos do período.

Durante a Operação Marumbi, as dependências da DOPS foram visitadas pelo bispo auxiliar de Curitiba, dom Albano Cavalin, sendo que o delegado Ozias Algauer determinou que todos os presos fossem evacuados dos cubículos, “e um polaco gordo, de aspecto lombrosiano, disse aos policiais: ‘vamos retirar esses comunas daqui, porque o xereta do bispo está dando cobertura para esses filhos da p…”[4]. Podemos notar ao longo da ditadura civil-militar uma mudança ideológica da Igreja Católica com relação ao regime. Antes da implantação da ditadura, era mais comum a presença de religiosos que, na “luta contra o comunismo”, apoiaram as Marchas da Família com Deus pela Liberdade, mas após constatarem as graves violações em relação aos direitos humanos, se mostraram contrários ao regime, e/ou a favor das garantias individuais, como no caso do bispo Dom Alberto Cavalin.

Atual fachada da antiga DOPS, 2018. Fonte: acervo do autor.

Requião visita antiga sede da DOPS. In: Correio de Notícias, 12 jul. 1991, p. 6

 A primeira imagem chama a atenção para o fato de que a antiga delegacia da DOPS foi totalmente descaracterizada, assim como na maioria dos casos identificados nesta pesquisa. Já na imagem posterior, o então governador Roberto Requião aparece visitando uma antiga cela de famigerada delegacia. No dia 12 de julho de 1991 estava sendo noticiado que Requião tornava públicos os documentos da repressão, os quais passaram a integrar o acervo do Arquivo Público do Estado, sendo o governador um dos pioneiros do país nesse sentido.

 


[1]IPÓLITO, Verônica Karina. DOPS, PCB e o mito da conspiração comunista no Paraná (1945-1953). XV Encontro Regional de História. 26-29 de junho de 2016, Anpuh, UFPR.  Disponível em http://www.encontro2016.pr.anpuh.org/resources/anais/45/1467250015_ARQUIVO_Texto_ANPUHCURITIBA2016_Veronica.pdf
[2]OLIVEIRA, Narciso Pires de; SAHD, Fabio Bacila; CALCIOLARI, Silvia. Depoimentos para a história: a resistência à ditadura militar no Paraná. Curitiba: DHPaz, 2014.p.73
[3]CALCIOLARI, Silvia. Ex-presos políticos e a memória social da tortura no Paraná (1964-1978). Curitiba: Assembleia Legislativa do Paraná, 2006. P. 129.
[4]HELLER, Milton Ivan. Resistência democrática: a repressão no Paraná. Rio de Janeiro: Paz e Terra, Curitiba: Secretaria de Cultura do Estado do Paraná, 1988.P. 374-375.